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À Doralice

on 7:41 PM in



À Doralice.


Tenho que te dizer: amo o teu jeito de dançar. Comecei assim, primeiro, pelos teus pés rodopiando com lindas sapatilhas cor de rosa, depois, pelo teu maiô azul piscina que alongava o teu corpo salientando as tuas curvas. Os movimentos suaves do teu balé me deixavam alucinado e eu acabava sonhando, todas as noites, que estava dançando contigo e te carregando pelos ares. Creio que posso comparar as tuas belas pernas a um par de pincéis, encharcado de tinta colorida, que é exatamente do que me lembro todas as vezes que te olho alçando alguns voos diante da grande sala de espelhos dourados. E alguns minutos depois, o que se viu foi a mais linda série de obras de arte que já se produziu, até mais bela que toda a valsa Vienense. Eu sei, você ainda não sabe desse romance e, por isso, até entendo que saia com aquele rapaz, que dance com ele, que o beije e até que durma ao lado do sujeito. A tudo isso, um homem suporta a dor. O que ele não suporta, é a falta de poesia. Então eu te peço, minha Dora, não me ame, não me deseje, não saia e muito menos case comigo. Veja bem, Dora, me ignore, só não pare de dançar, meu bem.


O clube dos saudosistas.

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Romance pós-guerra

on 7:32 PM in



"Querido, senti sua falta por tanto tempo... Mas, agora que você está aqui, tenho vontade de te deixar. Sinto te informar, mas saudade, você sabe, é uma coisa que nunca suportei e nesse período pós-guerra, a solidão me atacava, querido, e me maltratava loucamente. Olha, vou ser bem sincera, eu te amei todas as horas, desde o dia em que você me ofereceu a violeta que guardo até hoje dentro do antigo Fitzgerald, sim, aquele com o qual me presenteou na noite da nossa honeymoon, e continuei te amando até a tua partida para os campos, me deixando estagnada no portão dessa casa branca enorme. Só que agora, aqui, junto de ti, e te vendo dormir cheio de marcas severas do destino, e não estando preparada para te receber, querido, estou me esforçando para lembrar de tudo o que vivemos e te amar novamente. Posso te dizer ainda, meu bem, que a maior tristeza que tive foi quando li a carta que me relatava que tu não irias voltar mais. Meu pranto foi o maior do mundo e durante dias não consegui sequer sonhar. Mas, amor, o tempo é uma coisa que funciona e o destino ainda está lá, para funcionar. E não imaginas o bem que eu te quis quando te vi chegar, junto com a minha fé e a minha esperança, que logo me relembraram que EU não poderia mais ser a mesma, porque no meio de nós houve um tempo e um fato. Bem, não vou conseguir ir tão longe com essas linhas, que jurei ser uma despedida, mas, Amor, vendo-te assim, dormente, e não te amar, não sei se é possível.  Então, prefiro dormir pois talvez eu consiga acordar de manhã e te dizer a verdade..."


[Querido, a verdade é que te amo, e mesmo que houvessem infindas guerras e a saudade quase me matasse, ou que houvessem mil generais, ainda assim, todas as vezes que tu voltaste, eu sempre voltaria a te amar.]






O clube dos saudosistas.

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Onde estão as cartas de amor?

on 3:52 PM in



Estava eu a reler algumas cartas de amor de enamorados, declarações por vezes loucas mas cheias de afeto e percebi que isso, exatamente isso, essa troca de amor escrita e requintada, anda rumo à extinção. A começar pelo dialeto, aquele cheio de interjeições para expressar fervorosas carências, esses já caíram em desuso e nos dias de hoje os sentimentos são meros ensaios ou paráfrases de um Neruda ou qualquer outro grande poeta. Fico a me questionar se isso é apenas uma tendência ou pior, se pode ser o destino do romantismo daqui há mais uns duzentos anos. Bem, tenho de admitir, seria realmente exagero dizer que não vejo sequer nenhuma manifestação calorosa de carinho ou que só vejo isso em novelas. Por esses dias me vi confusa a respeito dessas indagações. Romances, contos, estórias, contos de fadas. O menos mau é que, com toda a liberdade tecnológica a que tenho acesso, consegui encontrar umas páginas virtuais da mais pura poesia provinciana que jamais imaginei ser datada de um tempo tão recente e, claro, me apaixonei. E do que eu gosto mais nessas histórias - e refiro-me aos rabiscos - é que elas sempre vem acompanhadas de rosas, como ilustração viva do amor.


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